segunda-feira, 7 de abril de 2008

CRUZ e SOUZA

CRUZ e SOUZA
Nascimento do poeta em 24 de novembro de 1861 em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Filho do escravo mestre-pedreiro Guilherme e da escrava liberta, Carolina Eva da Conceição.
Em 1869 ingressou na escola pública, depois de receber as primeiras letras de dona Clarinda Fagundes de Souza, mulher do marechal Ghilherme Xavier de Sousa, em cuja casa o poeta foi criado. Já em 1871 foi matriculado no Ateneu Providencial Catarinense, onde lecionava o alemão Fritz Müller. Cruz e Sousa estudou com distinção grego, latim, inglês, francês, português, matemática e ciências naturais.
Cruz e Sousa praticou essencialmente um jornalismo cultural que era também crítico. Depois de "O Colombo", publica regularmente na "Tribuna Popular". "Como este jornal desapareceu da Biblioteca Pública, pode-se ainda estudar Cruz e Sousa como jornalista na coleção do semanário 'O Moleque', que ele dirigiu por seis meses", acrescenta Zahidé, lembrando que o poeta "não tinha medo das palavras e usava-as com vigor contra as injustiças sociais". "O Moleque", publicado durante um ano (1884 a 85), era um periódico de formato pequeno, ilustrado litograficamente. Com humor, sátiras e caricaturas, criticava os costume e a política.
Negro, numa sociedade escravocrata, Cruz e Sousa fez militância contra a escravatura. Pesquisadora do assunto, a professora-doutora Zahidé Lupinacci Muzart, do departamento de letras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), lembra que nos anos 80 do século 19, Cruz e Souza e seu grupo discutiam as questões cadentes de seu tempo e lutavam fundando jornais, folhas, semanários alternativos...
Em 1891, à porta de um cemitério de subúrbio, Cruz e Sousa conhece Gavita Rosa Gonçalves, seu grande amor. Gavita é uma costureira negra que se criara em casa de um médico de posses. No mesmo ano nasce seu primeiro filho marca o começo das grandes dificuldades financeiras. Finda o mandado de Floriano Peixoto. Em novembro toma posse o primeiro presidente civil, Prudente de Moraes.
Em 1893 publica suas grandes obras "Missal", prosa, e em fevereiro, "Broquéis", poemas, agosto, pela Magalhães e Companhia. Em dezembro casa-se com Gavita e é nomeado praticante de arquivista na Central do Brasil.
1896 é um ano conflituoso, o pai morre em Santa Catarina, com cerca de 90 anos, e a mulher dá indícios de loucura. Rio. Em meio a extremas dificuldades, compõe os poemas de "Faróis" e a prosa poética de Evocações, sendo que este segundo só é publicado após sua morte.
Em 1897 a tuberculose ataca Cruz e Sousa no final do ano. Em meio à doença, à pobreza e ao desamparo social, o poeta compõe "Últimos Sonetos", publicados em 1905, em Paris, pelo amigo Nestor Vítor. Em março do anos seguinte, em busca de saúde, parte com Gavita grávida para um sítio, em Minas.
Três dias após a chegada, o poeta morre, em 19 de março. Antes de partir para Sítio, o poeta entrega a Nestor Vítor os originais de três livros: "Evocações", "Faróis" e "Últimos Sonetos".
Cruz e Sousa atravessou a vida num silêncio escuro. Errante, trêmulo, triste e vaporoso, o negro e sublime poeta nascido na Desterro de 1861 suportou o peito dilacerado com a convicção da glória. O Cisne Negro não se amedrontou diante de austeras portas lacradas. Maldito pela grandeza e pelo elixir ardente de versos capazes de arrebatar paixões até a atualidade, quando se completam os cem anos de morte.
De pranto e luar, sangue e sensualidade, lágrimas e terra construiu uma obra de estímulo às paixões indefiníveis. Mestre do Simbolismo no Brasil aliou genialidade a um meticuloso rigor. Celebrado só depois de morto, o Poeta de Desterro foi um homem apaixonado, autor de versos transcendentais que ganharam o mundo.
Ele via a perfeição como celeste ciência, mas não saboreou a imortal conquista. Antes de morrer tuberculoso em Minas Gerais, em 19 de março de 1898, o poeta ensinou a alma palpitante, a fibra e, sobretudo que "era preciso ter asas e ter garras".
O Assinalado

Tu és o louco da imortal loucura, O louco da loucura mais suprema. A Terra é sempre a tua negra algema, Prende-te nela a extrema Desventura.
Mas essa mesma algema de amargura, Mas essa mesma Desventura extrema Faz que tu'alma suplicando gema E rebente em estrelas de ternura.
Tu és o Poeta, o grande Assinalado Que povoas o mundo despovoado, De belezas eternas, pouco a pouco...
Na Natureza prodigiosa e rica Toda a audácia dos nervos justifica Os teus espasmos imortais de louco!
(De "Últimos Sonetos")

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